sábado, 28 de maio de 2011

Coven


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COVEN

Aprendi muito nesse tempo em que consegui me desvencilhar dela. Descobri que não sou a única a vagar por esse mundo. Descobri que necessitamos dos outros, mas não conseguimos conviver por muito tempo. Somos caçadores solitários. Passar uma eternidade na solidão... Isso deve ser angustiante.

Pensava enquanto dirigia minha Gold Wing, em direção a Sampa. Delimitei meu território de caça em uns 250 km ao redor da capital. Muita gente. Muitos desaparecimentos que nem são averiguados. Só não me acostumava ao cheiro do povo da rua. Também sempre fui uma patricinha, rebelde, desde a morte de meus pais.

Passava pela Av. Brasil, congestionada... Resolvi passear pelas ruas dos Jardins. De repente uma sensação tomou conta de mim. Como se tivesse apertado uma campainha em meu cérebro, um zumbido em meus ouvidos.

Então me vi cercada por duas Harleys. Fizeram sinal para eu parar.

- Siga-nos!

Não entendi direito, mas aquela sensação de morte me acometeu. Pensei em acelerar e fugir; Aquelas Harleys não eram páreo para minha Honda.

- Nem pense nisso! – Disse o outro.

Compreendi. Mais uma vez pega de surpresa por minha espécie...

Fizemos a volta e segui-os até uma mansão. O portão se abriu. Entramos.

Paramos em frente a uma escadaria, a porta da frente. Enquanto tirava o capacete, dava uma visualizada nos arredores. Um belo jardim, com uma fonte e lago ao redor dela. Na fonte, Pan com uma urna, vaso, jorrando água. Os muros, escondidos por ciprestes.

Apeei da moto. Eles tiraram o capacete também. Dois rapazes de minha idade. Um loiro e o outro de cabeça raspada e, toda tatuada. Tribais.

- Calma garota... Só sentimos sua presença e resolvemos averiguar quem é você. O Grão mestre de nosso Coven ficou intrigado e quer vê-la.

“Grão mestre? Coven? Isso é novidade para mim...”

Entramos. Uma ante sala espaçosa. Cortinas vermelhas. Porque não fiquei surpresa? Colunas dóricas e, uma escadaria de cada lado, em meia lua. E, uma dúzia de pessoas sentadas, bebendo e conversando. Estranho... Não pensava que tantos de nós convivessem juntos, mas entre eles senti o cheiro de humanos. Mas não consegui distinguir entre eles, ainda era difícil para eu conseguir utilizar meus dons completamente. Ainda era uma neófita.

Descendo da escadaria, um homem alto, negro, vestido como se estivesse no século XVII na Inglaterra.

- Bem vinda ao nosso lar!


Por Lord Gafa

sexta-feira, 20 de maio de 2011

CRIANÇA DA NOITE: CAÇA!


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Estava calmamente passeando nas redondezas da Praça da República, vendo a fauna noturna, quando na vi... Bela, cabelos ruivos, pele clara, dentro de um terno masculino, pensei logo em suas preferências. Mas era bela demais.

Sentei-me em um banco a sua frente. Fiquei implorando por um olhar dela. Mas quem não olharia um punk, cabelo moicano, cor de cenoura, com suas roupas todas rasgadas, coturno, todo de preto... Porém não chamei a sua atenção.

Sem coragem de me expor e certo de que ela esperava uma namorada, sai para um rolê. Mas sua figura não saia de minha cabeça. Circulei por vários bares e boates. Estava totalmente embriagado. Sem ter aonde ir, dirigi-me a rua Aurora, em meio a tantos perdidos física, mental e socialmente, eu não seria importunado. Comecei a observar os transeuntes. Um bando de dependentes químicos. Se algum deles desaparecesse quem iria ligar??? Nesta cidade nem existe uma base no calculo de quantos desaparecem por dia...

Peguei umas pedras de crak e cheguei em duas garotas que aparentemente estavam na nóia... Chamei-as para usá-las no Parque da Luz. Me acompanharam. Em sua viagem não perceberam o que estava por vir e, me aproveitei disto...

Saciado, agora estava circulando pelo largo do Arouxe. Estava cansado, não cansado de fazer algo, estava cansado da vida. Devia ser umas 2 horas da madruga, me encostei na praça, cercado de casais homo, hetero, ou bi, seja lá o que fossem, pouco me importava. Fechei os olhos e tentei repousar, descansar um pouco.... Abri os olhos. Já não tinha quase mais ninguém. Do meu lado a ruiva.

- Senti seu desejo de morte. Estou aqui para realizá-lo... Não vai doer...Vai ser como um profundo sonho...

Ela abriu sua boca e mordeu meu pescoço. Senti o sangue se esvair. Uma sensação de êxtase percorreu meu corpo inteiro. Mas não podia permitir isso.

Virei-me com toda a minha velocidade e minha força. Segurei-a firmemente e cravei meus caninos nela. Vi toda a sua vida passar pela minha mente. Estava muito bem alimentado com o sangue das duas jovens. Suguei seu sangue, vendo a história de suas últimas vitimas. Eu era bem mais velho, antigo e, ela uma criança...

Ela se debatia, mas não adiantava. Bebi até ela se desfalecer.

Levei-a no colo até um hotel. E aguardei.

Quando ela abriu seus olhos, cortei meu pulso, alimentei-a...

-Você tem muito que aprender...Criança... Criança da noite...

FOME

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Por Lord Gafa

Estava em meu caminho, era noite avançada,

Via perambulando pela madrugada,

Bêbados, prostitutas, a escória...

Mas para mim eram gado.

Não que eu não tivesse sentimento algum,

mas passados todos estes anos,

só via minhas necessidades, sem glória,

já nem me lembrava do remoto passado,

os dias devoravam-se um a um,

eram apenas véus antigos, rotos panos.

Mas a fome era eterna, consumia-me,

E meus atos que podem parecer repugnantes,

mantinham minha eterna busca,

por infinitas respostas, que perguntado-me,

sempre sobravam os questionamentos de antes.

A eternidade não basta, é pouco,

perante o infinito, infinito de duvidas infantis,

para onde vamos, oque fazemos aqui,

porque existimos, isso me deixa louco.

para manter-me, sou culpado de atos vis,

e nenhuma resposta conclui,

o porque de os líquidos vitais de um ser alimentar o outro,

Assim faze as minúsculas bactérias,

os insetos, os répteis, as aves e os mamíferos.

Devoramos, sim, a energia vital

Mas é por necessidade, não por mal.

BOA NOITE, CRIANÇA DA NOITE!


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Era meu ultimo dia de vida. Acordei cedo meio zonza da noitada anterior, como se estivesse de ressaca, mesmo assim abri a janela de meu apartamento e ainda consegui admirar meu último nascer do sol, sentindo a brisa fresca do amanhecer. Hoje não teria trabalho, faculdade, afazeres domésticos... Só teria que curtir meu dia, um dia especial, só meu.

Faria o que viesse na cabeça, iria me fartar das coisas que mais gosto. Comecei a fazer planos... Que nada, iria deixar a vida correr a seu bel prazer, o destino já estava escrito mesmo.

Tomei um banho com todas as ervas que possuía, queria me limpar, o corpo e a alma. Passei cremes em minha pele, no corpo todo, dos pés aos meus cabelos. Maquiei-me moderadamente, escolhi meu melhor vestido, um pretinho básico, coloquei minha meia predileta, meu coturno e meus adereços. Sai.

Era cedo, os pontos de ônibus lotados de trabalhadores e estudantes. Acelerei minha Gold Wing, o vento em meu rosto. Primeira parada no “Estadão”, cheio de pessoas indo trabalhar, voltando do trabalho ou simplesmente da balada. Pedi um capuchino e me servi de um croissant de queijo e calabresa. Adoro isto.

Passei pelo Teatro Municipal, subi a São João, entrei novamente na Ipiranga, subi a Consolação, passando pelo meu edifício, dando uma última olhada no Copam, uma cidade. Entrei na Paulista via Augusta passando pelo MASP, desci a 23 e parei no Parque do Ibira. Desliguei a moto, andei até o MAM. Sentei e comecei a apreciar as pessoas fazendo seus exercícios, suas caminhadas, suas corridas matinais.

Ouvindo o canto dos bemtevis, sabiás, passou uma revoada de maritacas com seus gritinhos atormentados. Dei uma volta no parque, respirando o ar puro de uma ilha no meio da metrópole. Perdi a noção do tempo. Era hora de almoçar. Fui direto comer uma senhora feijoada, no “Bolinha”, é claro. Saciada sai e fui tomar um chope no “Alemão”. 17 horas... Hora da espulsadeira. Hora de fechar o bar. Novamente sai. Passei pelo Parque Antártica, onde assisti a tantos jogos do meu verdão. Fui até a P2 para admirar meu último pôr do sol, a hora mágica. Tinha ainda um último compromisso a cumprir.

Comecei a ficar saudosa de coisas que fiz e das que ainda não tivera oportunidade de fazer. Parei em frente ao “Madame”, onde era o combinado. Ainda fechado... Entrei no bar da tia e pedi um blood Mary, é claro que tive que prepará-lo. Pensando na vida e refletindo sobre minhas últimas decisões e acontecimentos, comecei a ficar angustiada. Tinha tudo. Um emprego excelente, estava com minha tese de doutorado quase terminada, com meu MBA encaminhado em Havard, com todo o dinheiro e propriedades herdados de meus pais recém falecidos em um acidente idiota, mas ainda assim me sentindo uma loba solitária, sem propósito na vida. E aquela proposta surgida no calar da noite anterior. Não acreditei no principio, mas depois confirmei que era verdadeira. Não tinha nada a perder. Mas agora... Sei lá... Deu-me vontade de fugir. Ela me dissera que não haveria mais volta. Tinha dado minha palavra e, palavra é a única coisa que nos diferencia dos animais. É coisa de honra. Não. Vou voltar atrás.

Montei em minha gold e acelerei tudo. Peguei a Bandeirantes... Campinas, vou dormir em meu apê no Cambui, depois, sei lá... Ela não vai conseguir me encontrar, tenho diversos imóveis para me esconder.

Cheguei, finalmente. Subi para o apê. Tomei um banho e me deitei, nua mesmo. Era meia noite, a hora marcada. Fiquei o mais atenta que pude, mas estava cansada, desgastada pelo dia que tive. Meus olhos começaram a se fechar. Não. Precisava ficar atenta, acordada. Fui até a cozinha e peguei um pote de pó de guaraná e fiz um café bem forte. Misturei tudo. Tomei. Fiquei vigilante, mas minhas pálpebras teimavam em fechar. A garrafa térmica acabou. Ora, penso, estou viajando... Isto não existe.

Deixei o sono me levar.

De repente, acordo com uma brisa gelada, a janela estava aberta, com as cortinas esvoaçando. Dou uma geral no quarto, na penumbra, no canto do quarto, próximo a porta, estava um vulto. Era ela. Mas como?

- Você me deu sua palavra e eu lhe dei a minha.-sussurrou na escuridão, quase um lamento.- e eu vim cumpri-la.

-Como você...

Não completei a frase, de um salto ela já estava ao meu lado, não sei como, me pegou pelos ombros e cravou seus dentes em meu pescoço. Quis mas não consegui emitir nem um som, do que era para ser um grito. Meu corpo amoleceu, como que fosse desmaiar, minhas pálpebras fechando, cai sobre a cama, em seguida comecei a sentir um liquido em minha boca. Gosto de ferro, mas doce. Desfaleci.

Acordei, já era noite, um sonho, nada mais que um sonho... Passei a mão em meu pescoço. Nada. Nenhuma mordida ou dor. Ri de mim mesma. Então a ouvi...

- Boa noite, criança da noite!

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Promotor que opina em versos

Era apenas mais uma ação de separação judicial numa Vara de Família de Brasília (DF), mas o espirituoso Promotor de Justiça Irênio da Silva Moreira Filho resolveu elaborar um parecer em versos, defendendo a solução imediata do problema.






EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DE FAMÍLIA, ÓRFÃOS E SUCESSÕES DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE CEILÂNDIA-DF



Autos n.º 9892-8/07



Ref.: AÇÃO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL



Senhor Juiz, vem este Órgão Ministerial,

com ponderação e consciência,

apresentar sua manifestação final,

trazendo seus argumentos à Vossa Excelência.



Trata-se de ação de separação judicial,

movida pelo marido, ora requerente,

em face de sua esposa, com a qual

há tempos está descontente.



Relata o varão que o casal

há mais de três anos se uniu.

Não há filhos nem bens, segundo a inicial.

Apenas, um casamento que faliu.



A ré, mais elegante dizer requerida,

regularmente citada ofertou contestação,

na qual, de alma sentida,

demonstrou contra o pedido sua indignação.



Deixou claro a mulher

que não deseja a separação,

mas se acolhido o que o marido quer,

pretende dele receber pensão.



Antes de seguir adiante,

para não ficar incompleto o relatório,

atesto que na audiência de conciliação,

os cônjuges não reataram o casório.



Designada audiência de instrução e julgamento,

as partes prestaram declarações,

tendo a requerida, sem ressentimento,

desistido das mensais pensões.



Em suas considerações finais,

a ré alega que só há dez meses de fato da separação,

querendo assim, com assertivas tais,

a improcedência do pedido, para lutar pela reconciliação.



Pois bem. Agora este Promotor,

no seu mister de respeito,

passa a oficiar no seu labor,

discorrendo sobre o fato e o direito.



O magoado marido, em seu depoimento

contou que a esposa não lhe dava atenção,

não cuidava da casa e, para seu tormento,

só pensava no trabalho e na religião.



Disse também que, depois da primeira audiência,

voltou para casa uns dias e tentou a reconciliação,

mas a esposa lhe retirou a paciência,

porque só revivia os motivos da separação.



Ao final, relatou que tem nova companheira

e que agora, sem titubeação,

não mais enxerga qualquer maneira

ou possibilidade de reconciliação.



A esposa demandada, em depoimento pertinaz,

disse que o casal se desentendia

porque o varão a acusava de trabalhar demais,

e por isso com ela discutia.



Foi categórica em afirmar

que o esposo não está bem espiritualmente

e que para a ele perdoar,

deve ele pedir perdão a Deus e à depoente.



Peço vênias aos que pensam diferente,

seja por religião ou outro motivo qualquer,

mas se a falência de um casamento é patente,

como manter unidos o homem e a mulher?



Nada importa que, para a separação judicial, somente

haja, agora, onze meses de separação de fato,

embora seja certo que, comumente,

a lei exija mais de um ano para o juiz conceder o ato.



É que o art. 1.573, parágrafo único, do Código Civil,

permite que a separação judicial seja decretada

também quando for inútil

a preservação da união já acabada.



Com efeito, o Juiz pode, segundo esta disposição legal,

considerar outros fatos que tornem evidente

a impossibilidade da vida conjugal,

como é o caso presente.



Segundo a atual doutrina e jurisprudência, é de todo irrelevante,

na separação, falar em culpa de quem quer que seja.

O essencial, o importante,

é solucionar a peleja.



Não há culpado pelo fim do amor,

ou da comunhão de ideais e de vida.

Se o casal já convive com o rancor,

a estrada da separação já foi percorrida.



O autor deixou evidenciado

que a vida em comum se tornou insuportável.

Inclusive já tem nova companheira,

com a qual quer uma união estável.



Por todo o exposto e com serena consciência,

o Ministério Público requer ao nobre Juiz

que, ao pedido de separação judicial, dê procedência.

E recomenda que cada qual das partes procure ser feliz.



CEILÂNDIA-DF, 03 de setembro de 2007.



IRÊNIO DA SILVA MOREIRA FILHO

Promotor de Justiça
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Obs.: Este texto circula na internet e eu copiei de um amigo.