sexta-feira, 20 de maio de 2011

BOA NOITE, CRIANÇA DA NOITE!


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Era meu ultimo dia de vida. Acordei cedo meio zonza da noitada anterior, como se estivesse de ressaca, mesmo assim abri a janela de meu apartamento e ainda consegui admirar meu último nascer do sol, sentindo a brisa fresca do amanhecer. Hoje não teria trabalho, faculdade, afazeres domésticos... Só teria que curtir meu dia, um dia especial, só meu.

Faria o que viesse na cabeça, iria me fartar das coisas que mais gosto. Comecei a fazer planos... Que nada, iria deixar a vida correr a seu bel prazer, o destino já estava escrito mesmo.

Tomei um banho com todas as ervas que possuía, queria me limpar, o corpo e a alma. Passei cremes em minha pele, no corpo todo, dos pés aos meus cabelos. Maquiei-me moderadamente, escolhi meu melhor vestido, um pretinho básico, coloquei minha meia predileta, meu coturno e meus adereços. Sai.

Era cedo, os pontos de ônibus lotados de trabalhadores e estudantes. Acelerei minha Gold Wing, o vento em meu rosto. Primeira parada no “Estadão”, cheio de pessoas indo trabalhar, voltando do trabalho ou simplesmente da balada. Pedi um capuchino e me servi de um croissant de queijo e calabresa. Adoro isto.

Passei pelo Teatro Municipal, subi a São João, entrei novamente na Ipiranga, subi a Consolação, passando pelo meu edifício, dando uma última olhada no Copam, uma cidade. Entrei na Paulista via Augusta passando pelo MASP, desci a 23 e parei no Parque do Ibira. Desliguei a moto, andei até o MAM. Sentei e comecei a apreciar as pessoas fazendo seus exercícios, suas caminhadas, suas corridas matinais.

Ouvindo o canto dos bemtevis, sabiás, passou uma revoada de maritacas com seus gritinhos atormentados. Dei uma volta no parque, respirando o ar puro de uma ilha no meio da metrópole. Perdi a noção do tempo. Era hora de almoçar. Fui direto comer uma senhora feijoada, no “Bolinha”, é claro. Saciada sai e fui tomar um chope no “Alemão”. 17 horas... Hora da espulsadeira. Hora de fechar o bar. Novamente sai. Passei pelo Parque Antártica, onde assisti a tantos jogos do meu verdão. Fui até a P2 para admirar meu último pôr do sol, a hora mágica. Tinha ainda um último compromisso a cumprir.

Comecei a ficar saudosa de coisas que fiz e das que ainda não tivera oportunidade de fazer. Parei em frente ao “Madame”, onde era o combinado. Ainda fechado... Entrei no bar da tia e pedi um blood Mary, é claro que tive que prepará-lo. Pensando na vida e refletindo sobre minhas últimas decisões e acontecimentos, comecei a ficar angustiada. Tinha tudo. Um emprego excelente, estava com minha tese de doutorado quase terminada, com meu MBA encaminhado em Havard, com todo o dinheiro e propriedades herdados de meus pais recém falecidos em um acidente idiota, mas ainda assim me sentindo uma loba solitária, sem propósito na vida. E aquela proposta surgida no calar da noite anterior. Não acreditei no principio, mas depois confirmei que era verdadeira. Não tinha nada a perder. Mas agora... Sei lá... Deu-me vontade de fugir. Ela me dissera que não haveria mais volta. Tinha dado minha palavra e, palavra é a única coisa que nos diferencia dos animais. É coisa de honra. Não. Vou voltar atrás.

Montei em minha gold e acelerei tudo. Peguei a Bandeirantes... Campinas, vou dormir em meu apê no Cambui, depois, sei lá... Ela não vai conseguir me encontrar, tenho diversos imóveis para me esconder.

Cheguei, finalmente. Subi para o apê. Tomei um banho e me deitei, nua mesmo. Era meia noite, a hora marcada. Fiquei o mais atenta que pude, mas estava cansada, desgastada pelo dia que tive. Meus olhos começaram a se fechar. Não. Precisava ficar atenta, acordada. Fui até a cozinha e peguei um pote de pó de guaraná e fiz um café bem forte. Misturei tudo. Tomei. Fiquei vigilante, mas minhas pálpebras teimavam em fechar. A garrafa térmica acabou. Ora, penso, estou viajando... Isto não existe.

Deixei o sono me levar.

De repente, acordo com uma brisa gelada, a janela estava aberta, com as cortinas esvoaçando. Dou uma geral no quarto, na penumbra, no canto do quarto, próximo a porta, estava um vulto. Era ela. Mas como?

- Você me deu sua palavra e eu lhe dei a minha.-sussurrou na escuridão, quase um lamento.- e eu vim cumpri-la.

-Como você...

Não completei a frase, de um salto ela já estava ao meu lado, não sei como, me pegou pelos ombros e cravou seus dentes em meu pescoço. Quis mas não consegui emitir nem um som, do que era para ser um grito. Meu corpo amoleceu, como que fosse desmaiar, minhas pálpebras fechando, cai sobre a cama, em seguida comecei a sentir um liquido em minha boca. Gosto de ferro, mas doce. Desfaleci.

Acordei, já era noite, um sonho, nada mais que um sonho... Passei a mão em meu pescoço. Nada. Nenhuma mordida ou dor. Ri de mim mesma. Então a ouvi...

- Boa noite, criança da noite!

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